Escrevo-vos o que nunca direi. Ou se alguma vez vos disser, será tarde de mais. Escrevo pois não grito. Não me deixam. Lentamente foram apagando o berro que há em mim, e em breve, prisioneiro de mim próprio, estarei apagado.
Do alto do medo observa-me melancolicamente o silêncio, que espera por mim no fim de uma agonia anestesiada. Se ao menos eu pudesse voar não escorreria por mim esta lágrima muda que me entristece e nauseia a alma.
Talvez a vossa falta de compreensão se assemelhe à minha falta de palavras (o tema é difícil e o raciocínio entope). Quando o pensamento se cala a mente afoga-se, tudo fica suspenso na claridade da ideia que de tão perto estar deixa de ser nítida.
Despedeçar, confrontar, escandalizar! Comburentes que a minha chama nunca viu! Desvanece-se sem nunca ter brilhado... Oh! Quanto eu gostava de a deixar brilhar, de a por a brilhar, de a fazer brilhar!
Fizeram-me apagado, meu mal foi ter nascido com um pavio!
Se fosse para dormir nunca me tivessem acordado!
Revolve em mim a dor de algo que me queima por não poder arder!
Ahh! Malditos que nem sequer sabem o que sofro!
A chama que não se consome explode secamente no meu ser. Não me deixa Ser. E sempre que sinto, que sei e que penso, esbate em mim o ténue fumo que nunca chega a ver-se.
Porra p'ró desígnio e p'ró destino, porra p'rós genes e p'ra educação.
Que se foda o ambiente!
Nem morrer consigo, encarceraram-me no abismo que sou.
Rasgaria a minha carne se tal me libertasse.
Tenho gana de explodir, de rebentar esta carcaça que me amortalha.
Porque é que me martelaram o espírito??? Não vêem que me emperraram as asas!?